Processo de projeto integrado a favor da sustentabilidade
Como o processo de projeto integrado pode agir a favor da sustentabilidade?
A maneira através da qual estamos concebendo nossas edificações traz consequências como: perda da qualidade de projeto; número excessivo de revisões e alterações projetuais; impossibilidade de criação de soluções inovadoras; atritos entre equipes, gerados pela falta de planejamento e desconforto geral; retrabalhos em obra; atrasos e custos estourados.
Foi sob esta metodologia de desenvolvimento de projetos que o mercado passou a estipular novas exigências e metas mais ambiciosas relacionadas à sustentabilidade. A consequência natural desta ação foi o equivocado aumento de custos atribuído a esta suposta sustentabilidade.
Por falta de conhecimento técnico e pela ausência de práticas ligadas à racionalização do processo construtivo, à logística de canteiros de obras ou projetos e construção enxuta, o mercado passou a alocar gastos e acréscimos nos valores das obras na conta da sustentabilidade que, quando abordada da maneira certa, traz justamente o efeito inverso.
Para que o processo aconteça de maneira mais produtiva e eficaz e para que a sustentabilidade realmente mostre seus benefícios, o que se propõe nos Estados Unidos a partir de 1994 é uma mudança na maneira de projetar empreendimentos que precisam ser mais eficientes ou até mesmo aqueles que simplesmente têm a intenção de que sejam obtidas melhorias nos processos e resultados de projeto e obras.
Este novo método é chamado de Processo de Projeto Integrado (PPI) ou Integrated Design Process ou ainda Integrated Project Delivery.
Como funciona o Processo de Projeto Integrado (PPI):
O Processo de Projeto Integrado é desenvolvido de maneira que todas as equipes estejam trabalhando juntas, de maneira realmente colaborativa, desde o início da concepção de projetos, onde os profissionais das mais variadas competências opinam sobre suas especialidades ou não.
O resultado obtido é consequência de um processo onde todas as opiniões, de cada possível interessado, são levadas em consideração e as soluções são trabalhadas em conjunto até que se atinjam os níveis de sustentabilidade, economia, eficiência, estética, qualidade e segurança estipulados ou objetivados.
Esta metodologia deve levar em conta a gestão das equipes de projeto em relação a esclarecimentos gerais, cronograma, formas de comunicação, mapeamento do processo, custos, relacionamento entre equipes e profissionais, estímulos à produtividade e inovação entre outros. É neste momento que ressaltamos a importância do gestor de projetos, que deve ser capaz de coordenar as equipes e manter o cliente informado sobre o perfeito andamento dos trabalhos.
Ao longo de um processo de projeto integrado (PPI), acontecem os “Eco-Multirões” de Projeto ou “Eco-Charrettes” – termo em inglês. Eco-Multirões são reuniões entre todas as equipes de projeto, que podem ter duração de um dia, dois ou uma semana, dependendo da complexidade ou fase do projeto, disponibilidade das equipes entre outros.
Os principais objetivos destas reuniões são as definições de metas do projeto, prioridades, linhas de atuação, premissas e o surgimento de ideias que possam realmente ser valiosas ao projeto. Seções de brainstorming e debates devem ser realizados para que, antes que se inicie o processo de desenho, as equipes estejam alinhadas com os aspectos que realmente importam para a edificação e cliente.
Por entender que projetos desenvolvidos sob a metodologia integrada alcançam resultados significativamente superiores, a próxima versão da certificação LEED, a V4, que vigora a partir do segundo semestre de 2016, incentiva, e em alguns casos exige, a aplicação desta maneira de gerenciamento de equipes.
Processo de Projeto Integrado no Brasil:
A adoção desta metodologia, apesar de trazer comprovados benefícios, encontra barreiras no Brasil. Um país que não valoriza as etapas iniciais do planejamento de projetos, onde as obras se iniciam sem projetos acabados e decisões importantes são tomadas em momentos mais que tardios.
Outra barreira é a falta visão sobre o valor de um maior investimento na etapa de desenvolvimento de projetos para que os resultados técnicos e econômicos das obras sejam maximizados.
O Brasil passa por um momento onde não há mais espaço para desperdícios, retrabalhos ou patologias. O consumidor precisa e busca imóveis mais eficientes, com menor consumo de água e energia, além de segurança, durabilidade e flexibilidade. Desta forma, esperamos ver esta metodologia sendo, em breve, empregada no desenvolvimento de nossos projetos.
Um alerta! A aplicação do método é complexa e envolve conhecimentos muito específicos. Se não for acompanhada por profissionais devidamente qualificados para tal, é muito provável que a experiência seja desastrosa, prejudicando os resultados do projeto e a replicação ou disseminação de conceito tão promissor e necessário no mercado.
Matéria enviada pela arquiteta Rosana Correa, LEED AP BD+C e diretora fundadora da Casa do Futuro – empresa especializada em sustentabilidade e tecnologia em edificações
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