Evolução da sustentabilidade na construção civil e dos sistemas de certificação

25/11/2014 por Redação SustentArqui

O conceito de sustentabilidade na construção civil vem sofrendo muitas alterações ao longo das últimas décadas.

Até a década de 70 não havia uma preocupação massificada com o desempenho ambiental dos edifícios, quer na sua concepção e construção, quer na sua operação. A esta altura, ainda imperava a atitude comum de que o planeta possuía recursos infinitos e que tinha uma capacidade infinita de absorver nossos rejeitos e emissões.

No entanto, na década de 70 houve um evento político que causou uma reviravolta: a Crise do Petróleo.

Neste período, o custo da produção de energia ficou muito elevado nos países onde a energia era produzida através da queima de petróleo. A solução para a escassez de energia para os edifícios foi, obviamente, a busca pela redução do consumo.

Foi a primeira preocupação massificada com o desempenho e com a eficiência para utilizar de forma otimizada os recursos naturais. No entanto, esta preocupação ainda estava limitada à área energética. A título de curiosidade, a Crise do Petróleo fez com que o congresso americano determinasse um limite de velocidade de 89 km/h em 1973 como medida de economia de combustível.

Nesta década aconteceu a primeira grande reunião multinacional para discutir o desenvolvimento sustentável: Conferência de Estocolmo de 1972.

Durante a década de 80, a busca pela redução do consumo de energia nem sempre foi alcançada da melhor forma. Muitos edifícios tiveram seus sistemas de ventilação e seus níveis de iluminação reduzidos.

Como consequência, as pessoas começaram a apresentar sintomas de doenças que desapareciam quando as pessoas deixavam os edifícios. Em 1984, a Organização Mundial de Saúde fez o primeiro estudo sistematizado para analisar estas ocorrências, designando-as de Síndrome do Edifício Doente (Building Sick Syndrome).

Portanto, foi uma evolução na preocupação com a eficiência, pois percebeu-se que o serviço principal dos edifícios (abrigar o ser humano e suas atividades) não pode ser prejudicado pelo objetivo de reduzir os consumos. Nesta década a eficiência energética passou a andar lado a lado com a qualidade do ambiente interior.

Em 1987, a Organização das Nações Unidas, através do relatório Nosso Futuro Comum, publicado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, elaborou o seguinte conceito de sustentabilidade: “Desenvolvimento sustentável é aquele que busca as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades”.

A década de 90 foi a década de desenvolvimento e maturidade dos conceitos de sustentabilidade. Nesta década ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Rio-92.

Neste período o conceito de sustentabilidade foi alargado e passou a ser avaliado de forma holística, incluindo temas como energia, água, extração de matéria-prima, resíduos sólidos e líquidos, poluição atmosférica, saúde e segurança, fauna, flora, etc.

Foi também nesta década que surgiu o primeiro sistema de certificação ambiental de edifícios: Sistema BREEAM.

Desenvolvido pelo Building Research Establishment (BRE), o Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM), foi a primeira ferramenta a tentar integrar o novo conceito de sustentabilidade de uma forma sistemática no desenvolvimento dos projetos e na construção dos edifícios.

O sistema descreve requisitos técnicos relacionados com várias áreas de impactos ambientais tais como gestão da obra, poluição ambiental, consumo de energia, consumo de água, consumo de materiais, gestão de resíduos, saúde e bem-estar dos ocupantes, etc. No entanto, todos os requisitos eram opcionais, pelo que um edifício poderia ser certificado sem possuir um desempenho mínimo em uma das áreas.

Em 1998, nasceu nos EUA o sistema de certificação ambiental de edifícios que viria a ser o sistema de maior reconhecimento e de maior aplicação a nível mundial: A certificação LEED.

Desenvolvido pelo United States Green Building Council, o Leadership In Energy and Environmental Design (LEED) trouxe uma novidade à questão da certificação ambiental de edifícios: pré-requisitos nas áreas de impacto ambiental. O objetivo era fazer com que o edifício possuísse um desempenho mínimo e equilibrado nas várias áreas de impacto ambiental, antes de permitir a um edifício ambicionar uma certificação ambiental.

No entanto, o século XXI parece estar desenvolvendo um novo conceito de sustentabilidade na construção civil. Cada vez mais estamos acompanhando a busca pela autossuficiência, seja na questão energética, seja no consumo de água ou gestão dos resíduos.

Surgiu recentemente o conceito de ZEB (Zero Energy Building) que, de forma simplificada, significa um edifício que produz sua própria energia com fontes renováveis. Temos até mesmo o conceito de Energy-Plus House, que é um edifício que produz mais energia com fontes renováveis do que consume.

Recentemente também, foi lançado um novo sistema de certificação de edifícios que incorpora um conceito inovador de sustentabilidade, o Living Building Challenge (LBC).

Desenvolvido pelo International Living Future Institute, o Living Building Challenge (LBC) considera-se, acima de tudo, uma filosofia que deve ser aplicada na concepção, construção e operação dos edifícios.

O conceito desta filosofia é tomar cada decisão no projeto, tendo como foco principal o desempenho ambiental e não as implicações mercadológicas das soluções.

O surgimento de novos selos e certificações e a constante atualização dos mais antigos apontam para a aceleração do processo de conscientização ambiental na construção civil, embora o número de projetos certificados ainda represente uma parcela muito pequena em relação a todas as obras executadas.

 

Matéria enviada por Jeann Vieira, consultor de sustentabilidade e diretor na  ETRIA Sustentabilidade Integrada na Construção

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Comentários

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  • As profissões decorrentes do petróleo tem uma responsabilidade enorme!
    As reservas finitas de combustíveis fosseis precisam ser muito bem utilizadas. Mas é fundamental que esses setores da produção tenha consciência da necessidade de usar os recursos gerados e o valor atribuído ao petróleo para um trabalho honesto de desenvolvimento de energias alternativas. Não para o futuro. Para agora!
    Para que o petróleo possa trabalhar cada vez mais para nichos restritos, e plenamente, cada vez com menos impacto poluente.
    Gostaria muito de recomendar um video que ví no youtube e que foi o que me fez refletir sobre o assunto.
    https://www.youtube.com/watch?v=J_0CRasqpKI