Casa orgânica na Bahia tem impacto ambiental mínimo
Uma casa orgânica localizada em uma pequena vila no sul da Bahia. Região de muita biodiversidade, com mata atlântica preservada, praias paradisíacas e pequenas fazendas familiares de agricultura regenerativa.
Os moradores da casa são uma família de viajantes que andou pelo mundo a colher inspirações e práticas de comunidades sustentáveis. Decidiram criar raízes neste cantinho maravilhoso da Bahia.
Então pediram a arquiteta Irina Biletska que a casa materializasse os princípios e valores que adotaram para a vida. Daí surgiu o desejo de ter uma casa orgânica, que respeitasse ao máximo a topografia natural do terreno e que causasse o mínimo de impacto ambiental em todo o ciclo de vida da habitação.
Em termos de desenho arquitetônico o principal desafio para a baixa manutenção energética da casa foi desenvolver estratégias passivas de conforto no clima quente e úmido, sem descartar a vista privilegiada para Sul.
A solução bioclimática encontrada foi variar os níveis entre os telhados, permitindo a entrada da luz pela manhã e a saída do ar quente pela convecção natural.
No telhado, optou-se pela telha cerâmica e sistema de coberturas ajardinadas, que pelas suas propriedades de inércia térmica retardam o aquecimento interior e mantêm uma temperatura agradável. O que enriqueceu consideravelmente a linguagem arquitetônica da casa, além de promover a iluminação e ventilação naturais.
A seleção dos materiais da casa orgânica teve em consideração o critério ecológico, no qual foi analisada a origem, durabilidade, manutenção e fim de vida.
O resultado é que todo o edifício tem estrutura de madeira de demolição. Os pilares e vigas foram reaproveitados de uma antiga ponte e o pilar central da casa é de uma grande aroeira que outrora foi o poste de luz da cidade. Os vidros do estúdio de música são reaproveitados de refrigeradores comerciais, são ótimos por suas propriedades acústicas. O reuso destes materiais conferiu características singulares além de enriquecer a história da casa.
As paredes são em técnicas de construção com terra, algumas em sistemas vernaculares como o pau-a-pique e o adobe, outras em métodos mais recentes, ou importados como o hiperadobe e cordwood. Em comum, todas utilizam o material local, extraído na terraplanagem e as madeiras que sobraram dos pilares da estrutura.
A diversidade de técnicas conferiu qualidades estruturais e estéticas ao edifício, mas o reboco de barro com pintura de Tabatinga trouxe harmonia e continuidade aos espaços. As únicas paredes que não receberam reboco foram a parede de cordwood na cozinha e a parede adobe na sala de jantar. Ambas destacam-se pela geometria e variações de tons da terra regional.
parede de cordwood parede adobe na sala de jantar
O sistema de saneamento é ecológico, com círculos de bananeiras para as águas cinzas e biodigestor para as águas de descarga. Fechando o ciclo de cuidados com a terra e água.
O melhor de tudo é que este processo de construção sustentável foi sincronizado com um programa de aprendizagem que capacitou profissionais e amadores a usar essas técnicas de construção natural e arquitetura orgânica em seus projetos.
A residência está distribuída em dois pavimentos. No térreo, ficam as áreas de convívio e no andar superior as áreas de repouso. Ao entrar, o pé direito duplo da sala de estar e de jantar, confere grandiosidade ao espaço e a ausência de paredes entre a cozinha e a sala dão amplitude além de fomentar a interação dos integrantes em diferentes ambientes.
Contudo, o grande espaço de contemplação é a varanda junto à sala com vista privilegiada para a paisagem do terreno. Neste piso, ficam também o escritório, o estúdio de música, o banheiro e o depósito. Todos localizados estrategicamente para aproveitar bem a luz e a ventilação natural.
Ao subir as escadas, o corredor que dá acesso ao banheiro e aos dois quartos é iluminado tanto pela luz nascente e poente. Os quartos foram dimensionados para atender às necessidades do casal e do seu filho e ambos têm acesso à varanda exterior e aos telhados verdes que permitem o uso recreativo da cobertura.
Texto, fotos e imagens enviados pela arquiteta Irina Biletska
Créditos fotográficos: Bruno Morais
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