CASACOR SP na favela pela primeira vez, em um projeto permanente assinado pela arquiteta Ester Carro no Jardim Colombo, zona oeste de São Paulo. A morada repaginada ganhou novos ares para abrigar o entregador de delivery Wallece Gonzaga de Souza.
A parceria entre a principal mostra de decoração do país e Ester já acontece há alguns anos. Em 2023 a arquiteta projetou um ambiente cheio de sustentabilidade a ancestralidade, nomeado “MOTIRÕ. Um estúdio de 34 m², onde apresentou no evento como é possível planejar uma casa digna e sustentável para famílias de baixa renda.
CASACOR SP na favela do Jardim Colombo
Dessa vez a arquiteta Ester Carro, ativista e presidente do Instituto Fazendinhando, está à frente da ação inédita da CASACOR São Paulo 2024. Pela primeira vez, a mostra tem um espaço permanente, uma casa de verdade, na favela do Jardim Colombo, parte do Complexo de Paraisópolis, zona oeste de São Paulo, onde o Fazendinhando já realizou a reforma de mais de 280 ambientes da comunidade.
“De presente, o agora”, é o tema deste ano, e Ester, decidiu evidenciar as realidades das pessoas que moram na comunidade. Pois, nada mais ancestral do que fazer uma análise sociológica de um passado desigual para a compreensão das mazelas contemporâneas. Mas, agora, a arquiteta reverte a história ao empoderar e protagonizar as potências existentes no Jardim Colombo.
Ester fez o projeto de reforma da casa do Wallece Gonzaga de Souza, um entregador de delivery, de 33 anos, que mora em uma área de 7,3 m2 e tem como instrumento de trabalho uma bicicleta.
Sendo entregador de delivery, Ester quis evidenciar a realidade dos trabalhadores que sempre estão servindo outras pessoas e não são humanizados nesta cadeia. Antes da repaginação, a casa do Wallece não tinha cozinha, lavanderia, nem o essencial: um banheiro.
No passado, ele também já foi morador de rua, e se refugiava no Parque Fazendinha, quando ainda era um lixão. A área onde mora foi comprada com o auxílio de sua mãe, Maura, que é diarista, e pediu para a sua empregadora um empréstimo para comprar o espaço, anteriormente, um barzinho.
Como presidente do Fazendinhando, Ester teve no apoio da reforma a participação das Fazendeiras, mulheres que receberam capacitação na construção civil, e atuaram na parte da pintura. A casa ganhou uma ampliação vertical de 1,2 m de altura, para abrigar o novo mobiliário.
“Fizemos uma cama elevada para ganhar um mezanino e permitir mais espaço. Na parte de baixo, Wallece recebeu um guarda-roupa e um armário de cozinha e, além disso, ganhou uma bancada, uma geladeira, um cooktop, microondas e também um banheiro do outro lado da casa, espaço essencial para dignificar a moradia”, destaca a arquiteta.
“Fiquei muito feliz. Recebi uma reforma dentro da minha casa, e eu não tinha banheiro. E uma pessoa sem banheiro fica sem dignidade, né? Tem que ter no mínimo esse ambiente para atender as ecessidades primordiais”, celebra Wallece.
A iluminação e a ventilação também foram modificadas, pois não estavam adequadas ao espaço, e novos revestimentos foram aplicados.
Wallece também ganhou um grafite de Juninho, artista da região, recebendo uma morada remodelada para ter acesso a um maior conforto e dignidade no seu lar. Na parte externa, o layout ainda apresenta uma pequena horta vertical e o destaque da cor azul.
Para Dario Nascimento, proprietário da Rennove, empresa de gerenciamento e execução de obras que está atuando em parceria com CASACOR São Paulo, alinhar o projeto de arquitetura e engenharia foi um desafio devido ao espaço. “Não compatibilizamos nada para ser o melhor possível”, afirma ele, complementando que uma moradia digna proporciona elevação da autoestima, condições estas que todos deveriam ter.
A ação da Ester Carro também protagoniza todos os moradores da comunidade, inserindo-os em todos os processos: desde a reforma, a intervenção artística e as fotografias oficiais do ambiente 70o da mostra.
A inauguração da Casa do Wallece acontece no dia 11 de julho, mas para quem estiver passando pelo Conjunto Nacional, na avenida Paulista, poderá conhecer o projeto por meio de uma instalação inserida na saída do trajeto da CASACOR.
A residência dele estará disponível para visitação e visitas guiadas durante o período da CASACOR São Paulo a partir do dia 12 de julho.
Os fornecedores e parceiros aliados no processo foram Tintas Coral, Portinari, Deca, Eternit, Elettromec, Sleep Solutions, Lyor, Papelão Joia e Duratex.
A vidraçaria foi feita por Vitraltec Vidraçaria e Esquadrias, a marcenaria pelo Estúdio Buriti, a marmoraria por JL Mármores e Granitos e a execução de obras pela Rennove Obras e Reformas.
CASACOR apoia o Fazendinhando desde 2020 e agora abraça o desejo de materializar de maneira permanente a arquitetura social defendida por Ester Carro na edição de 2024.
SERVIÇO — CASACOR São Paulo 2024
Onde: Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, 2073
Quando: de 21 de maio a 28 de julho de 2024
Sobre Ester Carro — @ster.carro
Destaque Forbes Under 30 (2023) na categoria design (arquitetura e urbanismo), doutoranda no programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie (PPGAU-FAU Mack), mestra em projeto, produção e gestão do espaço urbano (2019) com ênfase em planejamento urbano pela Fiam-Faam, especialista em Urbanismo Social (2021) pelo Insper e em Habitação e Cidade (2021) pela Escola da Cidade.
Desde 2017 é presidente do Fazendinhando, instituto de transformação territorial, socioambiental e cultural que atua em favelas, em especial no lugar em que nasceu e cresceu, o Jardim Colombo, premiado em 2021 pelo IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil — São Paulo) na categoria de urbanismo, planejamento e cidades e em 2023 com o Prêmio de Responsabilidade Socioambiental da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo. É também colunista na plataforma Caos Planejado.
Sobre o Fazendinhando – @fazendinhando
O Fazendinhando surgiu no final de 2017 com a missão de transformar um lixão em parque, já que a comunidade não possuía nenhuma área verde comum, dando início à construção do Parque Fazendinha. O parque, ainda em obras, proporciona, além da área de convivência, atividades aos moradores.
Com a chegada da pandemia, as obras e atividades tiveram que parar respeitando o isolamento social e o movimento deu início às ações de suporte às famílias diante da situação de vulnerabilidade de muitas delas.
Foi também em meio a tantos desafios impostos pela pandemia que novos projetos surgiram, como o Fazendeiras, que capacita as mulheres do Jardim Colombo e de outras comunidades para atuação na gastronomia, artesanato e construção civil.
Ainda nessa época, o Fazendolar, que realiza reformas em moradias precárias situadas em territórios periféricos desde 2017, também ganhou força nas reformas, inclusive utilizando a própria casa das Fazendeiras como o aprendizado prático em suas capacitações.
As ações acontecem de forma coletiva, com apoio da sociedade civil, iniciativas privadas e estudantes de diferentes áreas que contribuem efetivamente nos mutirões e/ou doações de materiais de construção civil.
Dessa forma, o movimento Fazendinhando se fortalece e passa a ter três projetos fundamentais: Fazendinha, Fazendeiras e Fazendolar.
https://www.fazendinhando.org/