A onda das bicicletas compartilhadas sem estações chega ao Brasil
Dois novos sistemas de bicicletas compartilhadas devem operar em São Paulo a partir de junho. A novidade é boa, mas exige cautela e muito mais e melhores ciclovias.
Duas empresas de bicicletas compartilhadas sem estações (dockless) anunciam sua entrada no mercado brasileiro. Ambas pretendem começar por São Paulo, entre junho e julho próximos. A ideia, em princípio, é muito boa, pois oferece mais liberdade ao usuário em seus deslocamentos, especialmente para fazer conexões entre os demais sistemas de transportes.
A Yellow se apresenta como uma empresa brasileira criada por meio de investimentos do app 99 e de ex-sócios da Caloi. Planejam começar as atividades em julho próximo, com 20 mil bicicletas, inicialmente no centro expandido da cidade. O sistema de liberação, controle e monitoramento estará na própria bicicleta, com acionamento via app.
Outra empresa, a gigante chinesa Mobike, anunciou que estará na capital paulista a partir de junho, com 2 mil bikes e planos de chegar até 100 mil. Chris Martin, vice-presidente da Mobike, explica que a tecnologia é a receita da empresa para enfrentar os problemas de roubos e vandalismo.
As duas iniciativas – que tendem a replicar-se para outras cidades do Brasil – poderiam ser recebidas com absoluto otimismo, não fosse o histórico recente dos sistemas de compartilhamento sem estações em outros localidades do mundo, como Paris, onde o sistema dockless não teve sucesso. Na China, existem vários operadoras e mais de 20 milhões de bicicletas circulando nas cidades. Mas, há também as famosas fotos com milhares delas destruídas e abandonadas em grandes depósitos.
“Bagunça urbana”
Zé Lobo, diretor da Transporte Ativo, avalia que em princípio, “quanto mais bicicletas melhor”. Mas ele sugere atenção para a “bagunça urbana” que elas podem causar: “Será que apenas a demarcação das áreas para estacionar vão solucionar o problema de bicicletas por todos os lados, atrapalhando pedestres, como tem acontecido mundo afora?”, questiona Zé Lobo.
Lembra também o problema do vandalismo e dos roubos: “Num país onde se roubam materiais como alumínio, aço, fios de cobre e outros para revenda a peso, as bicicletas dockless podem ser um prato feito. Roubos têm sido problema em outros países, inclusive na China…por que aqui seria diferente?”.
O interessante, acrescenta Zé Lobo, é que há mais de dez anos atrás, o sistema alemão de bicicletas compartilhadas Call a Bike, da empresa de trens DB, sofria exatamente por ser dockless. “As calçadas ficavam cheias de bicicletas distribuídas de forma desorganizada, atrapalhando a circulação dos pedestres, problema que acabou por ser solucionado com sistemas dotados de estações”, lembra o diretor da TA.
Cabe lembrar também as imagens de bicicletas sendo resgatadas do fundo do rio Yarra, em Melbourne, Austrália. E também os relatos de bicicletas “privatizadas” por alguns usuários na Europa e Estados Unidos.
Zé Lobo avalia que a manutenção adequada é um desafio e que poderá ser o diferencial: “Com diversos sistemas espalhados pelas ruas, aqueles com melhor manutenção e confiabilidade serão os que irão sobreviver. Torcemos pra que São Paulo e o Brasil adotem e protejam essas bicicletas. Em Washington (EUA) há quatro sistemas: Ofo, Mobike, Lime Bike e Capital Bike Share; e estão se saindo bem. Vamos ver como será por aqui”, completa Lobo.
Ciclovias
No entanto, na visão do Mobilize Brasil, para que as bicicletas e seus usuários possam circular com segurança e conforto, cabe à prefeitura paulistana (e à maioria das prefeituras do país), fazer a manutenção das ciclovias existente, hoje abandonadas, sujas, repletas de buracos, irregularidades e falhas de sinalização. Seduzidos pelo asfalto, prefeitos continuam a ignorar as leis em relação aos sistemas cicloviários, calçadas e toda a infraestrutura voltada à mobilidade ativa. Talvez esteja aqui o maior desafio para a mobilidade sustentável
Fonte: Mobilize
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