Casa de Hiperadobe alia arquitetura orgânica à bioconstrução
Essa incrível casa de hiperadobe está situada na costa de Cacau, sul da Bahia em uma região com Mata Atlântica preservada. O projeto da arquiteta Irina Bilestka foi pensado para preservar o máximo possível o entorno e não derrubar nenhuma árvore, nem no terreno, nem na construção da casa.
O tecido social da vila está integrando a população local com várias famílias que mudam dos grandes centros urbanos para áreas rurais, inverso êxodo rural, em busca de qualidade de vida com forte foco nas práticas cotidianas sustentáveis.
A condição projetual foi integrar as comodidades da vida contemporânea com princípios de permacultura e criar um lar para uma família com 2 filhas e 2 cachorros.
Os princípios que guiaram o projeto dessa casa de hiperadobe foram a não derrubada de árvores na sua implementação, nem com a compra de madeira fornecida localmente e tão pouco de fornecedores da Amazônia.
Bioconstrução
O sistema construtivo escolhido para casa foi paredes de hiperadobe, com estrutura do telhado em bambu e madeira de demolição para piso e aberturas.
Por conta do declive do terreno o desenho da casa foi alinhado com as curvas de nível no seu eixo maior, para movimentar um menor volume de terra e aproveitar a vista para o pôr do sol e para o Parque Estadual.
Depois da terraplanagem apareceu um material abundante, a terra do próprio barranco. Tem uma frase de Permacultura que fala: “Problema é a solução”. Nesse caso, a terra da terraplanagem foi reacomodada e compactada dentro dos sacos para formar as paredes autoportantes da casa.
A terra para formar as paredes foi do próprio local, é material abundante e muito barato ou grátis, como nesse caso. Para essa casa foram utilizados 2500 metros lineares de saco, então o valor do material de paredes de toda a casa foi de R 2.500,00.
Uma das vantagens de construir uma casa de hiperadobe, é a rapidez da execução. Nesse caso todas as paredes portantes da casa foram feitas em 24 dias de obra, incluindo instalação de vergas de madeira de demolição e aduelas das aberturas.
Saiba mais sobre o Hiperadobe e suas vantagens
Para acabamentos foram escolhidos reboco e pintura de terra. Como elemento não processado e industrializado, sem COVs (Compostos orgânicos voláteis) e toxinas.
Esse reboco tem sua propriedade intrínseca de evitar fungos e umidade excessiva do ar.
Além do uso de paredes portantes de terra, para evitar o uso de madeira na estrutura do telhado, foi escolhido o bambu, especie Guadua.
O bambu é uma grama gigante que em poucos anos após a plantação se torna uma madeira sustentável. Este tem excelentes propriedades de tenção e compressão, integrando no desenho sua força e elegância.
No telhado foram duplicadas e triplicadas as vigas para cobrir os vãos maiores. Como material extremamente leve, o uso de bambu facilita o processo de construção, porém exige a mão de obra especializada.
Arquitetura Orgânica
Para o desenho da casa foi utilizado a metodologia de arquitetura orgânica, uma corrente internacional desenvolvida no início do século XX por nomes como Frank Lloyd Wright, Rudolf Steiner, Antoni Gaudi, Hugo Haering, Alvar Aalto, Hans Scharoun, entre outros.
Segundo Irina, na arquitetura orgânica, todo edifício é visto como um organismo vivo. Cada parte deve refletir e expressar sua função específica, que emerge naturalmente no contexto em que está inserida: lugar, ambiente social, cultura e época. Por isso, ao desenvolver um projeto, seu objetivo é criar espaços capazes de transmitir o pulsar da existência e refletir a individualidade humana.
O design orgânico considera não apenas as necessidades físicas dos usuários, mas também aspectos psíquicos e espirituais. O processo criativo inclui estudos sobre a personalidade do cliente, a qualidade do local a ser construído e as perspectivas de desenvolvimento do ser humano que habitará o edifício em questão. O resultado disso é o bem-estar pleno de cada pessoa que mora, convive ou trabalha ali.
Nesse caso, o desenho foi concebido para que todos os espaços fossem conectados e fluidos, seguindo ao mesmo tempo o pedido do cliente de receber a luz da manhã nos quartos e ter área social, sala de estar, sala de jantar e cozinha privilegiada com vista do pôr do sol. O lado norte conta com exposição maior do sol, desta forma posicionamos banheiros secos com câmeras de termocompostagem.
Outros sistemas sustentáveis utilizados na casa de hiperadobe
Foram adotados sistemas sustentáveis para a captação de água pluvial, saneamento ecológico e aquecimento solar. Tudo isso aliado aos princípios da arquitetura bioclimática, com ênfase na iluminação e ventilação natural.
Para finalizar um fogão Rocket foi intuitivamente projetado por Santiago Lopez e executado com alto grau de improvisação. Só assim essas curvas podem ser alcançadas.
Foram utilizados tijolos refratários e maciços para o interior (zona quente), uma camada isolante de material leve, e uma segunda camada de tijolos.
O local para abastecimento da lenha é superior e diagonal para facilitar o auto carregamento e gerar uma chama próxima à base da torre (chaminé interna). O cinzeiro facilita a limpeza e a entrada de oxigênio, que em combinação com as altas temperaturas queimam os gases.
A chama passa pela placa e vai para o forno por baixo dele mesmo, aquecendo o piso. Ela entra pelo fundo e sai pela frente, por cima da porta, onde há uma serpentina para obter água quente. Finos detalhes de ferraria e terminações de terra completam o trabalho.
Assim, a combinação entre arquitetura orgânica e bioconstrução, aliada à tecnologia, resultou nessa casa de hiperadobe, não só na redução do impacto ambiental, mas na criação de ambientes mais originais, saudáveis e inspiradores.
Texto e fotos enviados pela arquiteta Irina Biletska
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Comentários
Alvissareiro o modelo, que foi defendido ate para colonizacao de Marte. Modelo bem no centro das reflexões para novos paradigmas pós covid.
Olá, gostaria de realizar um projeto, vocês podem me ajudar. Sou de Sorocaba SP.