Metodologia BIM ganha força como ferramenta de otimização de processos

24/03/2015 por Redação SustentArqui

A metodologia BIM ganha força como ferramenta de otimização de processos, mas ainda há buracos no caminho das melhorias na produtividade, qualidade, sustentabilidade e rentabilidade.

Um grupo de profissionais da construção civil se reuniu ontem, 23 de março de 2015, na FIRJAN em um evento, promovido pelo SINDUSCON-RJ, que falou sobre a utilização da metodologia BIM nos projetos.

Por um lado, é tranquilizador saber que este assunto finalmente decolou no Brasil e o número de projetos desenvolvidos com a metodologia BIM só vem crescendo. Por outro lado, ainda é difícil entender porque os brasileiros resistem tanto a mudanças e custam a adotar medidas, soluções e metodologias que já se comprovaram eficientes e rentáveis.

Passamos por um momento de desaquecimento do mercado, onde as margens são mais baixas e oferta maior, aumentando a competitividade. Em um cenário como este, não há mais espaço para baixa produtividade, retrabalhos e projetos mal desenvolvidos.

Apesar disso, muitas empresas ainda insistem em um modelo ineficiente e ultrapassado de desenvolvimento de projetos onde os maiores problemas e perdas econômicas acontecem, não por falta de conhecimento técnico das equipes, mas sim por deficiências no planejamento e gerenciamento deste projeto.

Exemplos destas deficiências são:

• Profissionais de gerenciamento preocupam-se demasiadamente em cumprir prazos de cronogramas mal elaborados, atas e questões burocráticas.
• A coordenação técnica entre as disciplinas envolvidas fica negligenciada e muitas vezes este escopo ao menos aparece como responsabilidade da gerência ou algum outro profissional.
• Os produtos são deficientemente definidos. Premissas não são compartilhadas ou mesmo o que se deve buscar como objetivos, metas ou valores para os projetos, que por sua vez, passam por incontáveis e frequentes revisões.
• Prazos de entrega não são cumpridos. Plantas com diversas áreas “EM HOLD” esperando definições que chegam tardiamente.
• Não há métrica para identificação dos padrões de qualidade das soluções apresentadas.
• Não há know-how para o perfeito entendimento de uma ENGENHARIA DE VALOR
• Projetos são orçados em fases tardias do processo quando frequentemente descobre-se que não há recursos para construí-lo. Os resultados são retrabalhos, cronogramas estourados, insatisfação entre equipes e perda de rentabilidade.
• Não se estudam ou aplicam novas e mais eficazes metodologias de coordenação de projetos.
• Não se sabe o valor de um bom investimento na etapa de planejamento. Há resistência em aumentar investimentos (tanto de recursos quanto de tempo) na etapa de planejamento e projeto.

No papel de consultora em sustentabilidade, pude perceber que as medidas que mais causam impactos ambientais e perdas são aquelas relacionadas às deficiências no planejamento e gerenciamento de um projeto.

Um projeto gerenciado de maneira deficiente traz desperdício, retrabalhos incompatibilidades e investimentos mal feitos. Muitas vezes, tais investimentos são realizados de forma absolutamente incorreta, na busca de uma falsa sustentabilidade.

Vidros são um bom exemplo. Por diversas ocasiões recebi ligações onde a pergunta era: “Que tipo de vidro tenho que especificar e comprar em um projeto sustentável.” A pergunta se repete em diversas reuniões, reportagens enfatizam a eficiência dos vidros utilizados. E a resposta correta seria: “O pior tipo de vidro seria o ideal!” Apresento um exemplo de um projeto onde foi possível especificar um vidro totalmente incolor e sem nenhuma capacidade de bloqueio de calor (um vidro que o mercado entenderia como de baixa performance ou qualidade). Isso foi possível porque a arquitetura do edifício era bem pensada e oferecia proteção. A troca de um vidro “low-E” por vidros comuns gerou economia de alguns milhares de reais ao cliente. Não precisamos afirmar que não houve nenhum tipo de prejuízo, por exemplo, ao sistema de climatização ou ao consumo energético.

As relações entre os sistemas prediais simplesmente precisam voltar a ser entendidas. Nossas edificações são organismos complexos e temos que entendê-las como o corpo humano, com estrutura, circulação, respiração, proteção, alarmes e alertas, audição, olfato, tato, sistemas de purificação, abastecimento e geração de resíduos.

Em outro projeto, estavam sendo previstas soluções muito interessantes para os sistemas relacionadas à água. Entre elas, podemos citar: a captação e aproveitamento de águas de chuva, o tratamento de águas cinzas e de condensação.Louças e metais economizadores estavam sendo utilizados e um sistema de esgoto à vácuo. O resultado de todas estas ações era que a água tratada estava sendo jogada fora por falta de demanda uma vez que o edifício consumia pouquíssimo nos sistemas de esgoto (bacias sanitárias e mictórios) e não havia jardins a serem irrigados.

Por falta de conhecimento, o mercado da construção civil tende a acreditar que itens de sustentabilidade podem ser marcados como em um “check list”. Desta forma, distorcem técnica e economicamente a maneira através da qual a questão deve ser tratada. Sustentabilidade nada mais é do que projetar e construir edificações que realmente façam sentido técnico e econômico, e não somente ambiental.

Neste momento de crise ambiental, além de metas de redução de gases do efeito estufa (GEE), temos que pensar em redução de consumo e eficiência, mas temos que alcançar esta melhoria na qualidade das edificações de maneira inteligente, não com acréscimos de custos, mas através da melhoria nos processos que já se comprovou possível.

Em projetos bem gerenciados e com o apoio técnico e ferramentas e trabalho adequadas, podemos ter como resultados, edificações de maior qualidade, durabilidade, mais saudáveis, mais atrativas e sustentáveis. Esta experiência já está acontecendo em alguns projetos brasileiros e é amplamente conhecida nos EUA e Europa.

A metodologia BIM é apenas uma ferramenta. Estamos a utilizando para identificar problemas de compatibilização, para orçar obras e definir cronogramas, para levantar quantidades e custos e estudar melhorias em projetos que infelizmente foram desenvolvidos sob uma metodologia falha. É claro que o potencial desta ferramenta é muito maior do que isso. Apenas percebemos os primeiros benefícios, mas se entendermos o real valor de um projeto bem pensado, evoluiremos com maior velocidade e rentabilidade.

O mercado precisa entender como projetar e construir de maneira mais eficiente, econômica, produtiva e lucrativa. O caminho existe e já está sendo traçado.

Matéria enviada pela arquiteta Rosana Correa, LEED AP BD+C e diretora técnica da Casa do Futuro – empresa especializada em sustentabilidade e tecnologia em edificações.

COMPARTILHE

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *