Moradias Infantis: projeto brasileiro ganha o Prêmio Internacional RIBA
Projeto Moradias Infantis, em Formoso do Araguaia (TO), do escritório brasileiro Aleph Zero, dos arquitetos e urbanistas curitibanos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, venceu o Prêmio Internacional RIBA (Royal Institute of British Architects) 2018, elaborado em parceria com o designer Marcelo Rosenbaum e sua sócia, arquiteta e urbanista Adriana Benguela, que assina o trabalho como responsável técnica . O anúncio ocorreu no dia 20 de novembro.
O complexo foi escolhido por um grande júri presidido pela renomada arquiteta Elizabeth Diller (DS + R).
O Prêmio Internacional RIBA é concedido a cada dois anos para um edifício que exemplifique a excelência do projeto e a ambição arquitetônica, além de proporcionar um impacto social significativo.
É um dos prêmios de arquitetura mais rigorosamente julgados do mundo, com todos os edifícios de longa lista visitados por um grupo de especialistas internacionais.
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Em maio, Utrabo e Duschenes já tinham ganho o Prêmio Internacional RIBA de Arquitetos Emergentes. Naquela ocasião, foi concedido também o Prêmio RIBA de Excelência Internacional, que selecionou os 20 melhores novos prédios do mundo, que depois gerou uma lista de quatro finalistas, entre eles o agora vencedor do prêmio máximo.
Em 12 anos de existência do prêmio internacional, é a primeira vez que brasileiros são laureados. Paulo Mendes da Rocha recebeu em 2017 a RIBA Gold Medal , mas fora do prêmio.
Na opinião do presidente do RIBA, Ben Derbyshire, o projeto Moradias Infantis oferece um ambiente excepcional projetado para melhorar a vida e o bem-estar das crianças da escola. Ele ilustra o valor imensurável do bom projeto educacional”.
O prédio oferece alojamento para 540 crianças entre os 13 e os 18 anos que frequentam a Escola de Canuanã. Os alunos vêm de áreas remotas do país, alguns viajando muitas horas de barco.
Financiado pela Fundação Bradesco, o Moradias Infantis é uma das quarenta escolas administradas pela fundação que oferece educação para crianças em comunidades rurais em todo o Brasil.
Para os autores do projeto Moradias Infantis , o trabalho mostra como a arquitetura pode ser uma ferramenta de transformação social.
Eles trabalharam de perto com as crianças para identificar suas necessidades e desejos para a escola.
Eles queriam criar um ambiente que pudesse ser uma casa longe de casa, onde as crianças pudessem desenvolver um forte senso de individualidade e pertencimento.
“O bom é que acaba dando voz não só para Arquitetura Brasileira, mas também para o trabalho muito consciente da Fundação Bradesco, que preza pela educação. O projeto conseguiu corresponder às demandas da Fundação e das crianças de uma maneira muito inteligente, e que acabou surpreendendo muitas pessoas”, lembrando que foram usados vários elementos que fizeram a diferença, como usar madeira no Cerrado, ter grandes sombras para as crianças brincarem e a generosidade dos espaços comuns.
“É o maior prêmio que a gente já recebeu, demora um pouco para acreditar”. afirma Gustavo
Cobrindo uma área de quase 25.000 m2, o Moradias Infantis é organizado em dois blocos idênticos: um para meninas e outro para meninos. As residências estão centradas em torno de três pátios amplos, abertos e bem sombreados ao nível do solo, onde a acomodação do dormitório está localizada.
No primeiro andar, há espaços comuns flexíveis que vão desde espaços de leitura e salas de televisão até varandas e redes, onde as crianças podem relaxar e brincar.
Para Rosenbaum e Benguela, “o espaço facilita a interação entre o público e o privado, e a socialização entre o coletivo, a natureza e o indivíduo, reconectando crianças e jovens às suas origens e ao ecossistema circundante”
O ecossistema em torno do complexo – particularmente o clima tropical, onde as temperaturas chegam a meados dos anos 40 no verão – foi um dos principais desafios inteligentemente abordados pelos arquitetos.
O grande telhado, cuja estrutura é composta de vigas e colunas de madeira laminada cruzada, fornece sombreamento.
O projeto de dossel suspenso criou um espaço intermediário, entre o interior e o exterior, dando o efeito de uma grande varanda com vista para a paisagem circundante e criando um ambiente confortável sem necessidade de ar condicionado.
Combinando uma estética contemporânea com técnicas tradicionais, o Moradias Infantis tem sido descrito pelos juízes como “reinventando o vernáculo brasileiro”.
O edifício é construído com recursos locais e baseado em técnicas locais. Blocos de terra feitos à mão no local foram usados para construir as paredes e treliças, escolhidos por suas propriedades térmicas, técnicas e estéticas.
Além de ser rentável e ambientalmente sustentável, esta abordagem cria um edifício com fortes ligações ao meio envolvente e à comunidade que serve.
Os escritórios Aleph Zero e Rosembaun seguem parceiros em um novo projeto para a Fundação Bradesco, desta vez no Pantanal. Eles prometem mais novidades.
“É muito importante colocar a Arquitetura Brasileira no panorama internacional. Somos de uma geração que está repleta de profissionais qualificados, e eu espero que esse prêmio ajude mais escritórios a conseguirem bons trabalhos”, afirma Gustavo. “O Brasil é muito grande, é de suma importância que os arquitetos aqui consigam exercer seu ofício de maneira independente e interessante”.
Os arquitetos Gustavo Ultrabo e Pedro Duschenes, do escritório Aleph Zero, que recebeu prêmio pelo projeto de moradia estudantil
Entre os prêmios que o projeto da Aleph Zero ganhou anteriormente estão o Prêmio APCA 2017, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, na categoria Obra de Arquitetura no Brasil; o 5º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura – Habitat Sustentável; o Prêmio ArchDaily Building Of The Year 2018, na categoria Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo e o Prêmio de Arquitetura Tomie Ohtake AzkoNobel.
Fonte: CAU BR / Riba
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