Psicologia ambiental pode ser aliada para cidades mais saudáveis
A PSICOLOGIA AMBIENTAL E A CIDADE
A psicologia ambiental se dedica ao estudo da subjetividade humana dentro do espaço, analisando circunstâncias constitutivas da interdisciplinaridade entre o ambiente construído e o seu efeito psicológico e psicossomático sobre o usuário.
Ao estudar a cidade, é de fundamental importância enxergar o homem enquanto usuário do espaço em sociedade e fazer uma análise crítica da vida cotidiana em que as cidades estão estruturando para a vida do ser humano contemporâneo.
O meio urbano está a todo o tempo interferindo no intelecto de seus usuários, se habitamos uma cidade desconexa, caótica e com pouca presença da natureza, teremos consequências psicológicas dessa interação.
Por isso, é importante buscar uma compreensão dessa interação e analisar quais os prováveis agentes que estão atuando para uma possível interferência de uma vida saudável e satisfeita por parte dos cidadãos dos grandes aglomerados urbanos.
O HUMANO E O URBANO
Associa-se o urbano como uma concentração de serviços e de atividades, estas que impulsionam as pessoas a estarem sempre em movimento e a estar sempre ativas e produtivas dentro desse espaço.
O sistema social, por sua vez, demanda e induz aos usuários esse tipo de comportamento para ser enquadrado em uma vida social tida como realizada e de sucesso.
No entanto, a exigência por cumprir com uma rotina intensa de atividades e deslocamentos dentro de uma estrutura cada vez mais artificial, pode estar trazendo consequências negativas para a vida das pessoas e o planejamento urbano precisa se atentar a essas questões, afim de encontrar soluções mitigadoras.
Segundo Eric Klinenberg, pesquisador da Universidade de Nova York, a
população mundial encontra-se no processo de transição entre o conceito de coletivismo e os princípios de individualismo.
Compartilha-se ambientes com muitas pessoas diferentes todos os dias, ou até mesmo com as mesmas pessoas, cumpre-se uma ordem social de boa convivência, porém, as relações se mostram cada vez mais rasas.
Vive-se segundo as regras sociais, porém não se observa a construção de um senso de companheirismo, o isolamento aparenta estar presente em espaços com grandes aglomerados de pessoas, onde cada qual com o seu interesse e com o seu grupo social, não se sente à vontade para interagir entre si com facilidade.
A NATUREZA INTRÍNSECA DO HOMO SAPIENS
A estrutura urbana está provocando efeitos na saúde vital das pessoas, a estrutura urbana polui os rios que fornece água para o seu próprio consumo e poluem o próprio ar que respira, manifestando um contrassenso da percepção do tipo de relação que a cidade tem com o humano, pois sua estrutura física causa sérios danos para a própria vida de quem o usa.
Deve-se reconstituir o ambiente urbano de maneira a retomar características naturais do meio, e refazer o modelo de vida urbana de modo a retomar uma relação intrínseca do homem e do seu habitat natural, a natureza.
A PSIQUE URBANA – QUE TAL UM REFÚGIO NO PARQUE?
Esse pensamento dentro de um contexto Urbano-Social, sendo este Cidade-
Pessoa, se materializa nos espaços tidos como comuns aos moradores das cidades, embasando os espaços de convivência como sendo uma possibilidade de contribuição da psicologia ambiental para o bem estar da população.
A psicologia ambiental pode se aliar a arquitetura e ao urbanismo trazendo elementos para o cotidiano urbano que cuidam, acolhem, relaxam e traz uma outra perspectiva de sensações a fim de amenizar as consequências e disfunções colaterais do ambiente artificial que as cidades se tornaram.
A sinergia territorial que um parque urbano pode proporcionar aos moradores de um bairro pode atuar como um elemento que contraste com a vida agitada das cidades, criando um espaço de fuga, de consciência ambiental e de reaproximação com a natureza.
Trazendo elementos, geometrias, materiais, luz, cores, equipamentos, mobiliários urbanos, que inspirem uma interiorização das pessoas, atuando como um elemento para a mediação existencial.
Atentar-se aos problemas essencialmente humano é um papel fundamental do planejamento urbano.
O planejar cidades para pessoas requer um entendimento além da forma e da função, além da preocupação com o fim dos recursos naturais, o planejamento urbano precisa de um entendimento sobre a psique das pessoas, precisa entender como elas estão se sentindo, buscar compreender as verdadeiras necessidades, e atuar para supri-las.
Como sintetiza PALLASMA, no livro Os olhos da pele: “A arquitetura não pode se reduzir a um elemento da funcionalidade, do conforto corporal e do prazer sensorial sem perder sua tarefa de mediação existencial”. (2011, Pág.59)
Artigo enviado pela arquiteta Itália Cecília Melo, membro do escritório Itália Arquitetura – mídia social: @arq.italia
Fonte da imagem de capa: TZE/ jazzeco.com
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