Curitiba vai testar ônibus movido a cocô
A capital paranaense vai ganhar um ônibus movido a cocô. Parece brincadeira, mas não é! Trata-se de um tipo de tecnologia sustentável que vai rodar pela cidade em teste.
Curitiba foi escolhida para testar um ônibus que usa como combustível o biometano, um gás obtido da decomposição de matéria orgânica — incluindo restos sanitários.
Em outras palavras, vai ser o seu lixo e a sua ida ao banheiro que vão fazer o ônibus rodar por aí.
A novidade foi apresentada ao prefeito Rafael Greca (PMN) pela montadora Scania em uma reunião na última quarta-feira (13) após a entrega dos novos biarticulados que vão integrar a frota da cidade.
“Fazer a demonstração em Curitiba é muito emblemático para nós por se tratar de uma capital que valoriza as alternativas ao diesel”, explica o diretor comercial da empresa, Silvio Munhoz.
O destaque desse ônibus, na verdade, é que ele é capaz de rodar tanto com biometano quanto com gás natural veicular (GNV) — em uma espécie de “flex gasoso”.
Por isso, os testes vão ser feitos em duas etapas: nessa segunda-feira (18), o coletivo começou a rodar na linha Gramados, entre os terminais Sítio Cercado e Capão Raso, apenas com GNV para testar seu desempenho e, no segundo semestre, exclusivamente com o biometano.
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De acordo com Munhoz, a principal vantagem no novo tipo de motor é que ele é muito mais econômico e ajuda na redução da poluição. Um ônibus abastecido com biometano chega a ser 28% mais barato no custo operacional por quilômetro rodado e emite 85% menos gases do que um veículo a diesel. Além disso, ele também faz muito menos barulho.
“Se você pega uma canaleta hoje, vai notar que o barulho é bem significativo por causa do som dos motores. Se você tem gás, parte desse ruído desaparece”, afirma Munhoz.
E quem se preocupa com o cheiro, pode ficar tranquilo. “O odor é zero. Quando você faz a limpeza do material para obter o combustível, os gases que têm odor são eliminados ”, tranquiliza o executivo.
De onde vem o combustível
Como dito, o biometano é obtido justamente da decomposição de material orgânico. Isso inclui o lixo doméstico, restos de plantas e animais e até mesmo resíduos do tratamento de esgoto. Durante esse processo, alguns gases acabam sendo emitidos — o chamado biogás.
“O problema é que ele tem algumas impurezas junto com o metano, que é o combustível. Por isso, ele precisa passar por um processo de limpeza que eleva essa concentração de metano de 40% para algo entre 90 e 95%, o que é perfeito para circular”, explica Munhoz.
Segundo ele, o prefeito Rafael Greca se interessou pela possibilidade justamente pelo fato de Curitiba já trabalhar com algumas iniciativas para a redução de poluentes, principalmente relacionadas ao lixo. Entre as possíveis fontes de biometano pode estar a usina híbrida da Caximba estudada pela prefeitura, que usaria material de poda e coleta pública.
“Outra fonte poderosa é o tratamento de esgoto. No final do processo, com a adição de produtos químicos, resta apenas um lodo que é matéria riquíssima para gerar biometano”, explica o diretor da Scania. No entanto, em Curitiba, ainda não há nenhuma iniciativa junto à Sanepar para isso.
Segundo a prefeitura, essas “iniciativas estão dentro das diretrizes de uso de energias limpas e renováveis e do aproveitamento da matéria orgânica dos resíduos sólidos”.
Vantagens do biogás
Atualmente, não só no Brasil, mas no mundo todo, um volume enorme de resíduos é despejado em lixões e aterros sanitários, desperdiçando uma oportunidade extraordinária de se produzir energia a partir do “lixo”.
Em vários países já existem usinas que utilizam o processo chamado de biodigestão anaeróbica, a decomposição de matéria orgânica que ocorre na ausência de oxigênio, gerando biogás e um resíduo líquido rico em minerais que pode ser utilizado como biofertilizante.
No Brasil, no início do ano passado, foi anunciada a inauguração, também em Curitiba, da primeira usina de grande porte de biogás do país.
Instalada junto à Estação de Tratamento de Esgoto Belém, no município de São José dos Pinhais, na região metropolitana da capital, a planta usa o lodo gerado pela estação e resíduos orgânicos coletados diariamente em shoppings e supermercados da vizinhança.
Testes
A primeira fase dos testes com o ônibus a gás da Scania, que vai usar GNV, começou nesta segunda-feira (18) e deve durar cerca de 30 dias. Para isso, porém, o veículo usado deve ser bem diferente daquele que os passageiros da cidade estão acostumados a ver. Por ser um ônibus emprestado, ele está no padrão usado em São Paulo, com a entrada baixa e algumas outras características únicas.
Para o gestor da área de frotas da Urbs, Celso Lúcio, a cidade está sempre disposta a testar alternativas de combustível nos ônibus do transporte público.
“Curitiba sempre foi pioneira ao estar aberta para novas tecnologias. Pode ser que sejam inviável, mas nos gostaríamos de testar”, diz. Segundo ele, o importante é esgotar as possibilidades e tentar oferecer uma melhor qualidade do ar — mas sem prejudicar o sistema.
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