Guia de infraestrutura verde e azul – para cidades sustentáveis

23/02/2023 por Redação SustentArqui

O Guia de Infraestrutura Verde e Azul foi criado por pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), junto à organização Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI), e outros parceiros, diante dos desafios para alinhar as demandas de desenvolvimento com as políticas de sustentabilidade.

 

O objetivo é realizar um passo a passo de como tornar cidades sustentáveis, com foco em melhorar a governança local em relação a: Alimentação, Água e Energia (FWE). 

De acordo com o pesquisador à frente do projeto, José Puppim, a urbanização acelerada sem planejamento, as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade podem gerar insegurança alimentar e escassez de água e energia, uma vez que o consumo desses três elementos vai aumentar significativamente nas próximas décadas.

“Esses são alguns dos temas que mais preocupam a população mundial na atualidade e que podem gerar grandes consequências para os próximos anos, principalmente dentro das cidades”, destaca Puppim. 

Infraestrutura verde e azul

José Puppim afirma que antes de se considerar o Guia, é necessário entender o que são essas infraestruturas e por que esses elementos foram selecionados como parâmetros.

  • A infraestrutura azul é voltada para o sistema de águas urbanas, como regiões urbanas alagadas, lagos e lagoas, rios urbanos, ecossistemas da costa a exemplo de mangues e baías, o sistema de drenagem urbano, entre outros”.  
Guia de infraestrutura verde e azul CONCEITO

O pesquisador também explica a importância dos três sistemas que compõem o projeto: “é estimado um aumento grande no consumo tanto de alimentos, quanto de água e energia para os próximos 50 anos e boa parte desse consumo vem das cidades.

Em termos de governança fica evidente que as cidades costumam ter pouca gestão desses sistemas. Por exemplo, grande parte dos alimentos vem de fora das cidades, a gestão do sistema hídrico costuma ser estadual, enquanto a de energia, federal.

Assim, fica evidente como as cidades possuem pouca governança sobre os sistemas, o que as impedem de governar ‘green and blue infrastructure’”, disse Puppim.  

Considerando-se os três sistemas, o Guia de Infraestrutura Verde e Azul (GBI, do inglês Green and Blue Infrastructure) propõe melhores práticas de governança em categorias como:

  • Provisionamento (serviços de água, medicinais, matérias-primas),
  • Regulação (temperaturas locais, índices de carbono, desperdício de água)
  • Cultural (recreação, saúde, estética), além de servir de suporte para a preservação de espécies e seus habitats nas cidades.  

Os temas que englobam “Food, Water and Energy”, presentes no GBI, estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU).

MANUAL PARA CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS FAPESP
Fruto de pesquisa apoiada pela FAPESP, publicação foi lançada em dezembro, durante a última Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (imagem: reprodução)

Construindo o Guia 

O estudo que deu origem ao Guia foi iniciado através das seguintes perguntas:

“Onde estamos?” e “Para onde queremos ir e como melhorar a governança das cidades para chegarmos lá?”.

Primeiro foram identificados os desafios e problemas a serem enfrentados, e a partir daí, foram analisados os impactos que afetam a população, bem como os possíveis parceiros capazes de serem engajados na luta contra esses problemas.

Essa iniciativa tornou possível configurar uma base de ações, que incluiu a criação de diferentes times, estratégias, cenários, identificação de ferramentas, indicadores, recursos etc. 

 Após as devidas constatações acerca dos desafios e as possíveis formas de serem solucionados, o projeto chegou a sua fase de implementação, que envolve comunicar os respectivos planos, aplicar as soluções propostas, testar alternativas e registrar esse processo passo a passo.

Essa fase envolve o reporte constante de todo o percurso e o monitoramento das ações e resultados por parte dos pesquisadores. 

Impactos  

O guia é voltado para comunidades, governos, líderes e pesquisadores e utiliza-se da integração do conhecimento sobre os sistemas de alimentos, água e energia, e a sua melhor administração, para evitar desperdícios e gerar políticas públicas.

No total, 10 cidades ao redor do mundo foram inicialmente selecionadas pelos pesquisadores para aplicação das diferentes lições em “Food, Water and Energy”. Posteriormente estas lições poderão ser utilizadas por outras cidades com o auxílio do Guia de Infraestrutura Verde e Azul.

 A expectativa é que mais de 30 cidades utilizem o Guia, entre elas, no Brasil, estão São José dos Campos (SP), que está mais imersa na utilização das ferramentas e Florianópolis (SC), que já deu início a um novo programa de segurança alimentar baseado neste estudo. 

Mudanças  

Puppim relembra que por meio das mudanças climáticas e o crescimento constante da demanda, esses recursos já deixaram cidades reféns em crises de água, energia e alimentos.

Por isso, a ideia deste projeto é entender como uma melhor gestão da Infraestrutura Verde e Azul pode evitar a escassez destes recursos. 

“Criamos formas de desenvolver cidades de maneira sustentável nos três fatores, com o intuito de torná-las mais eficientes no consumo de Alimentos, Água e Energia, utilizando modelos que já existem”, destacou o pesquisador ao mencionar que o Guia foi oficialmente lançado no dia 14 de dezembro, após ser apresentado em um evento na CDB COP-15 da ONU.

A elaboração do Guia de Infraestrutura Verde e Azul foi apoiada pelo JPI Urban Europe e Belmont Forum, programa que congrega 30 financiadores, englobando diversos projetos para tornar cidades sustentáveis, utilizando-se das infraestruturas verde e azul.

A participação da FGV neste Guia é direcionada para governança, ou seja, focada em entender como os municípios estão lidando com os sistemas de Alimentação, Água e Energia, e como é possível melhorar a gestão desses recursos, a fim de reduzir os riscos de escassez no suprimento e tornar a cidade mais sustentável. 

O estudo liderado pela FGV faz parte de um projeto maior, o IFWEN (Iniciativas Inovadoras para Governar Água, Alimentos e Energia em Cidades). Trata-se de um consórcio liderado pela FGV EAESP, que inclui a Universidade de Yale, a Universidade de Estocolmo (Stockholm Resilience Center-SRC), o ICLEI – Governos Locais para Sustentabilidade, a Universidade de Ming-Chuan (Taiwan, China), e a The Nature of the Cities. Ele é financiado por seis agências de pesquisa, incluindo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e a National Science Foundation (NSF), entre outras.

Para conferir o guia completo, acesse o site.

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Fonte: Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

 

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