5 passos para inovar na construção civil no Brasil

05/09/2018 por Francine Vaz

Por que a construção civil ainda fica tão atrás de outras indústrias quando falamos de produtividade e inovação?

Esse setor foi um dos mais afetados pela crise brasileira. Após a euforia da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o mercado se viu preso em distratos, estoques elevados e taxas de vacância enormes. Muitas empresas quebraram e a recuperação tem sido bastante lenta.

Mas são nesses momentos de crise que surgem oportunidades para aprendermos, inovarmos, mudarmos a forma de fazer as coisas, para obtermos resultados mais precisos, mais econômicos e de melhor qualidade. Essa não foi a primeira e não será a última crise que o setor passará.

Infelizmente, apesar das crises, muito pouco mudou nos últimos 40 anos. Enquanto a maioria das outras indústrias se transformou drasticamente, a construção civil ainda é hesitante em abraçar inovações, sejam elas tecnológicas ou de processo, e isso causou uma forte estagnação no setor quando falamos de produtividade.

Em alguns países, como nos EUA, a produtividade do setor caiu nas últimas décadas. No Brasil, sequer temos dados robustos que possam mensurar o avanço ou recuo da produtividade. Afinal, a maior parte das empresas não mede dados de produtividade, como podemos ver no gráfico abaixo de um estudo realizado pela EY.

 

4 passos para inovar na construção civil no Brasil
Fonte: Estudo sobre produtividade na construção civil: desafios e tendências no Brasil – EY

 

Diante desse cenário, vemos que ainda temos muito para caminhar. E às vezes até nos sentimos perdidos – por onde começar?

 

5 passos para inovar na construção civil no Brasil:

1 – Liderança

Precisamos de lideranças no setor que assumam esses problemas e trabalhem nas soluções de forma pioneira, engajando as pessoas chave das organizações, entidades de classe, governo e da sociedade. Essas lideranças precisam ser resilientes, persistentes e agregadoras.

Porque a construção civil é um setor tradicionalista por natureza e avesso à inovação, por isso será necessário achar pessoas que tenham força de vontade, alto poder de influência e permeabilidade de mercado para liderar essas mudanças de forma bem-sucedida.

 

2 – Cooperação das múltiplas partes

Não entendo por que as construtoras competem tanto entre si. Na briga por uma obra e outra, se esquecem que se realizassem parcerias para dividir conhecimento e compartilhar o que cada uma tem de melhor em termos de processos, gestão e tecnologia, todas teriam muito mais a ganhar.

A divisão e o isolamento das empresas não “protege” suas inovações, apenas atrasa o setor e impede que as coisas sejam feitas com maior produtividade e de forma mais racional.

 

3 – Mudança de pensamento

As mudanças virão, é inevitável. As Construtechs (empresas de tecnologia focadas na construção civil) estão vindo com tudo e impactarão fortemente o setor, não dá pra negar essa realidade.

Setores centenários e tradicionalíssimos como o táxi e os hotéis foram impactados severamente por aplicativos como Uber e Airbnb, e não houve nada que pudessem fazer a respeito – a não ser inovar também, mudar a forma de pensar, diferenciar seu produto e focar mais no consumidor – você – que é a real estrela do mercado, mas que muitas vezes é deixado de lado.

Quem nunca teve uma experiência de compra ou aluguel de apartamento muito negativa?? Isso é somente um pequeno exemplo. O poder está finalmente passando para as mãos do consumidor em todo o mundo com a simplificação dos processos e o acesso à informação e é o consumidor que definirá se seu negócio irá falir ou não.

Fique de olho! Se sua empresa não mudar a forma de pensar, ficará para trás.

 

4 – Sustentabilidade

Sabemos que o impacto da construção civil no meio ambiente é enorme. Somos o maior consumidor de recursos dentre todas as indústrias existentes. Somos o setor que mais gera resíduos. Por fim, podemos gerar impactos ambientais enormes na construção – poluição do ar, dos rios, poluição sonora, erosão, impermeabilização do solo, entre muuuuitos outros.

Por isso, não podemos esquecer que a construção do futuro terá menor impacto, promoverá o bem-estar e a saúde dos usuários e otimizará seus recursos de forma inteligente. Teremos que ter processos de construção ágeis, modulares e pré-fabricados, smart buildings, smart cities, porque é realmente muita burrice continuar construindo e usando as edificações da forma que fazemos hoje!

A sustentabilidade irá permear todos os processos e produtos do setor. Porque o modo que fazemos hoje simplesmente não se sustenta ao longo do tempo, considerando que temos um planeta finito.

 

5 – Transparência e ética

Por fim, não poderia deixar de falar do calcanhar de Aquiles das empresas de construção civil no Brasil – muitas das quais se encontraram envolvidas em escândalos de corrupção na Operação Lava Jato.

A forma de se fazer negócios está mudando radicalmente e uma empresa precisa não só cuidar do seu desempenho, mas também da sua ética. Ela precisa mostrar ao mundo por que está ali, quais são seus valores, seu propósito de existir, com o que ela contribui para a sociedade, e vamos combinar, o mínimo é manter seus negócios de forma ética!

Muitas empresas já correram atrás e estão realizando processos de compliance e anti-corrupção, criando uma cultura de transparência junto aos seus funcionários. Esse é o caminho, e tenho certeza que nos próximos anos a forma de fazer negócios terá mudado bastante.

Não há mais espaço para manter a antiga maneira de se trabalhar, com propinas, “esquemas” e dinheiro na cueca.

 

E você, o que acha que pode contribuir para ajudar a inovar na construção civil e ser mais produtivo?

Conta pra mim!

 

Texto enviado pela arquiteta Francine Vaz – LEED® AP BD+C e ID+C – Master of Science em Architecture, Energy and Sustainability pela London Metropolitan University. Especialista em Gestão de Negócios Sustentáveis pela Universidade Federal Fluminense. Formada em Gestão de Projetos pela FIA-SP – Fundação Instituto de Administração.

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