5 principais perguntas sobre Sustentabilidade dos Arquitetos e Engenheiros
Se você é arquiteto ou engenheiro, já deve ter percebido a quantidade de informações sobre sustentabilidade que nos bombardeiam todos os dias: propagandas, cursos, materiais, certificações, soluções mágicas, fórmulas prontas. É muita informação!!!
Além de ficarmos confusos, nos perguntamos: será que devo entrar nessa onda? Isso é para mim ou não? Devo me arriscar?
Bem, nesse artigo busquei responder as principais perguntas sobre Sustentabilidade dos Arquitetos e Engenheiros, e como podem usá-la a seu favor. É uma compilação de mais de 5 anos dando aula de especialização para arquitetos e engenheiros, vendo esses questionamentos da vida prática profissional.
Na nossa experiência em projetos, consultorias e cursos, todo dia aparece alguém perguntando como é esse mercado, se vale a pena ou não a área de sustentabilidade.
Então, resolvi compartilhar um pouco da experiência de nossa empresa. Vou te dar 5 dicas importantes que podem orientar sua vida profissional. Acreditamos que é nosso dever ajudar a todos que querem também ingressar nessa área e ter resultados. Então vamos lá!
#1 Sustentabilidade, que caminho é esse?
Para qualquer lado que olhamos, vemos algo que remete à sustentabilidade, mudanças climáticas, falta de água, crise energética.
Bem, isso não é por acaso! É um problema real e muito sério.
Há 15 anos, falar disso era difícil, porque ninguém acreditava. Mas hoje esses problemas bateram à nossa porta e causam prejuízos para o meio ambiente, as pessoas, empresas e governo.
Ou seja, afeta todo mundo, né?
Além disso, o mercado consumidor hoje está cada vez mais exigente.
O cliente tem mais conhecimento sobre os produtos, sobre o que busca e sobre os seus direitos. Ele também tem mais opções de escolha. E como as empresas buscam atender a esse novo perfil de consumidor? Sendo cada vez mais eficientes, responsáveis, trabalhando com qualidade e redução de custos, porque isso traz retorno financeiro, ou seja, é lucro.
Mas Júlia, o que isso tem a ver com a sustentabilidade e com a construção civil, que é onde atuamos? Te respondo: TUDO. Hoje, na construção, existem 4 grandes objetivos:
1. SATISFAZER AO CONSUMIDOR;
2. AUMENTAR A QUALIDADE E VALOR, COM REDUÇÃO DE CUSTOS;
3. GARANTIR O DESEMPENHO E ATENDER NORMAS OBRIGATÓRIAS; 4
. REDUZIR IMPACTO AMBIENTAL E TER COMPROMISSO SOCIAL.
Então, respondendo a primeira pergunta desse artigo: sustentabilidade: que caminho é esse? É um caminho sem volta.
Hoje vivemos uma onda verde, vendo casos onde a sustentabilidade é muitas vezes usada num tom “marqueteiro”, com falta de seriedade e ética e o termo “sustentabilidade” muitas vezes visto com algo batido.
Mas o que significa sustentabilidade e o que deveremos fazer daqui pra frente nunca esteve tão claro e necessário.
Você deverá atuar com sustentabilidade querendo ou não, pois ou seu cliente vai exigir, ou você vai sentir necessidade de agir com mais responsabilidade ambiental, ou aumentar o valor do seu trabalho, ou estará buscando reduzir custos ou mesmo atender à normas obrigatórias.
#2 Sustentabilidade, o que eu ganho com isso?
Bem, em qualquer área que você vá atuar, uma das principais motivações deve ser sua satisfação em fazer aquilo que gosta. Ser levado por modismos pode até dar certo por um período, mas ou você começa a se frustrar, ou o próprio mercado vai selecionando os profissionais sérios. Lembre-se, estamos falando de clientes cada vez mais exigentes e que tem mais opções de escolha, certo?
Então, trabalhar com sustentabilidade sem acreditar nela, não é viável. Mas se você, assim como eu, acredita e vê que é um caminho para a melhoria e transformação do mercado, saiba que atuar na área de sustentabilidade, tanto em projeto, obras ou mesmo consultoria, te traz um reconhecimento e uma diferenciação.
Você já esteve em uma reunião de equipe de projeto, e como arquiteto, se sentiu muitas vezes desvalorizado, porque TODO mundo entende e quer interferir no seu projeto, porque todos “acham” que sabem tanto ou mais que você?
Pois quando você se torna um especialista num assunto (seja projetista ou consultor, em qualquer área), a sua posição passa a ser mais respeitada, e por isso seu serviço mais valorizado, e com um preço maior.
Como os edifícios devem ser melhores, tanto na qualidade, desempenho, quanto na redução de impactos ambientais, o planejamento de todas as etapas são muito mais rigorosos.
Então, a equipe que trabalha para um edifício mais sustentável, é mais integrada, mais capacitada, e o papel do arquiteto é mais reconhecido. Ele deve coordenar e gerenciar todas as soluções, com o auxílio ou não de um consultor.
Você já percebeu que em países mais desenvolvidos, o projeto tem um tempo de execução muito maior que a própria obra? Isso, porque lá, já é comprovado que se o projeto é bem feito, a obra é mais rápida e com menor custo.
Então, o que se ganha trabalhando com sustentabilidade? Satisfação em contribuir com a sociedade e meio ambiente, reconhecimento, diferencial de mercado, valorização dos serviços e regate do arquiteto como integrador das soluções do edifício.
#3 Sustentabilidade, como trabalhar nessa área?
Quando olho por aí, encontro muitas “soluções verdinhas”, ou como brincamos, o “kit sustentabilidade” para edifícios!! Vários profissionais que “acham que sabem”, mas não sabem.
Usam determinadas soluções porque: viram na revista, no site, na viagem…, na casa da amiga, o representante/vendedor do material disse que é sustentável. Muito cuidado! Quando a referência é de outro país então… só piora… Gente, é outro clima, outra realidade econômica, outras tecnologias!
Na sustentabilidade as soluções são personalizadas e locais, ok?
Como assim? Não dá para copiar simplesmente. Depende do clima, da tecnologia, do custo-benefício. Bem, cada proposta deve avaliada em termos de viabilidade.
Na sustentabilidade devemos analisar criticamente se o que estamos propondo realmente funciona, se existe mesmo o desempenho que se espera.
Nada é “achismo”. Você deve provar que realmente existe o benefício que está dizendo. Não pode falar: “eu adotei tal solução porque vai reduzir o consumo de água”. Óootimo… que boa iniciativa…. Fundamental para a sustentabilidade. Mas como definiu que essa opção é a melhor? Como o consumo de água vai ser reduzido? Quanto vai ser reduzido? Em quanto tempo? Qual o custo de implantação e manutenção? E como você chegou a esses números? Baseado em que tipo de análise? Perceba que é preciso estudar e ir atrás de fontes, métodos e referências confiáveis.
Mas então, como eu posso atuar na área de sustentabilidade?? Pode atuar como um especialista, seja como projetista ou consultor.
O importante é entender que deverá ter uma visão geral e ao mesmo tempo ter uma visão específica. Julia, não entendi….
Bem, a gente precisa entender o todo, ou seja, que vão existir impactos no entorno, na cidade, entender como será a gestão do canteiro de obra, preocupar com a questão da energia e água, do conforto do usuário (térmico, lumínico e acústico), a gestão do lixo, etc.
São muitos aspectos que temos que entender. Mas é impossível saber isso tudo, certo? Claro que é impossível!! Por isso, que devemos entender do geral, mas dominar (ser o melhor) apenas em um assunto específico.
Como eu vou trabalhar e atender meu cliente que quer resolver tudo?
Tendo uma rede de parceiros que completam seus serviços. Você vai dar a solução para o cliente, porque vai oferecer uma equipe de especialistas para ele.
Isso dá credibilidade e segurança pro seu serviço. A gente, por exemplo é especialista na área de conforto ambiental e eficiência energética. Mas temos nossos parceiros na gestão de canteiros, na otimização do uso da água, etc. Entendemos o todo, mas somos especialistas de uma parte.
#4 Sustentabilidade, porque Eu e Você e não Eu ou Você!
Você já ouviu isso antes né?
Isso quer dizer que é preciso mudar a visão de mercado. Se estamos falando de uma área que precisa crescer cada dia mais, de forma ética, com trabalho colaborativo, é nosso dever contribuir para isso.
Porque os aventureiros, os que vendem “fórmulas prontas”, ficam para traz quando o mercado começa a ter noção crítica e reconhecer o que é preciso e o que é bom.
Então, não faz sentido eu achar que não posso capacitar e dividir conhecimento, porque estarei criando concorrência. Não. A forma correta de pensar é: eu estarei melhorando o mercado, fazendo com que mais gente trabalhe de forma correta e valorize essa área.
Quantas pessoas a gente capacitou e hoje são nossos parceiros?? Muitos! O engenheiro eletricista que trabalha conosco foi nosso ex-aluno de especialização. Somos parceiras de ex-professores nossos de mestrado e doutorado! Ou seja, é uma rede que deve crescer cada dia mais!! Aqui, MAIS é MAIS.
Você precisa entender que como especialistas num assunto, temos que prestar os serviços, mas primeiramente temos que educar nosso cliente, porque ele nem sabe que precisa da gente. Então, quanto mais especialistas em sustentabilidade o mercado tiver, mais gente estará ensinando a importância da área e mais clientes vão surgindo, e com isso, o mercado se expande.
Então somos uma rede com boas inciativas, em busca de transformar o mercado!! Gratificante, né?
Outra questão importante de eu e você atuarmos juntos, é que no Brasil, o conhecimento ainda fica muito restrito às universidades. São muitas pesquisas (mestrados e doutorados) que não viram prática, não melhoram a sociedade. Muito conhecimento desperdiçado.
Precisamos ser a ponte do conhecimento acadêmico para a pratica profissional. O especialista faz muito esse papel, e para isso deve estar sempre atendo ao que está sendo gerado de conhecimento novo, filtrar o que é importante e aplicar isso no mercado.
#5 Sustentabilidade, por onde começar?
Depois de tudo isso, vem a mais importante pergunta: Júlia, por onde eu começo???
Pânico!! Isso não dá pra mim, é muita coisa, muito complexo. Sim, o todo é complexo, porque é uma grande área de conhecimento, mas ninguém começa nada pelo complexo, né?
Você aprende outra língua tentando ler e escrever um artigo científico? Nunca!! É uma linguagem difícil, específica, um horror! Você vai começar pelo básico, aquilo que é mais importante para você se comunicar, começar a falar e escrever o essencial pro seu dia-a-dia.
Então, na nossa área também é assim. Existem certificações que abordam muitos aspectos da sustentabilidade e estão cada vez mais sendo aplicadas no Brasil. Temos o LEED, o AQUA, o Selo Casa Azul, a Etiqueta do Procel (PBE Edifica), etc.
Começar estudando uma delas é um caminho interessante. Algumas certificações são voluntárias, ou seja, o proprietário do edifício opta por certificar. Mas existem certificações que os governos dos países desenvolvem de forma obrigatória, porque é de interesse nacional.
Vamos dar um exemplo: lembra da etiqueta Procel das geladeiras? Nivel A, B, C, D… Claro que lembra! Então, são obrigatórias, porque é interesse do país economizar energia.
E os edifícios? Bem, o programa PROCEL criou desde 2009 a etiquetagem para edificações, que passou a ser obrigatória em 2015 para edificações que usam recursos federais. Sabia que já é cobrado nos editais de licitação? E não vai parar por aí.
Logo todas as edificações deverão ser etiquetadas. E porque eu sei disso? Porque é assim nos outros países, porque foi assim com os equipamentos e porque a Eletrobrás e Procel já sinalizaram essa intenção de ampliar a obrigatoriedade.
Outra informação importante: como a etiquetagem Procel é obrigatória no Brasil, ela está presente nas outras certificações. Ou seja, a Etiqueta PBE Edifica está inserida no LEED e no AQUA. Então, não tem como escapar da etiquetagem Procel.
E como você está atrás de uma oportunidade, você não vai esperar a Etiquetagem se tornar obrigatória para todas as edificações para entender como ela funciona e o que deve fazer em seus projetos, certo?
Você consegue imaginar a reação do seu cliente se você afirmar, garantir que está fazendo um projeto pra ele com nível A na Etiqueta de Eficiência Energética, aquela que ele tem na geladeira?
Bem, respondendo a pergunta, por onde devo começar? Você deve começar a atuar na área naquilo que já esta claro que veio para ficar, naquilo que hoje é uma oportunidade e por isso não pode ser ignorada.
Bem, busquei deixar claro nesse artigo que os arquitetos têm muito a perder se ignorarem a sustentabilidade, pois é um caminho sem volta.
Mas muitos já enxergaram a oportunidade, viram os muitos benefícios, pessoais, para o meio ambiente e para a sociedade como um todo. Ser um agente que contribui para a melhoria dos edifícios, que ajuda na transformação do mercado, é gratificante.
Não tem preço a sensação de estar se fazendo o bem e recebendo para isso.
Artigo enviado pela Arquiteta Júlia Fernandes:
Sócia da empresa Quali-A Conforto Ambiental e Eficiência Energética e Doutora em Sustentabilidade pela Universidade de Brasília (FAU/UnB)
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