Programa Gentileza Urbana troca o cinza pelo verde em Sampa

11/12/2020 por Redação SustentArqui

O Programa Gentileza Urbana procura criar pequenos espaços nas ruas e avenidas do Centro de São Paulo para ampliar as possibilidades de estar, lazer, permeabilidade e biodiversidade.

O projeto foi lançado em maio de 2019, idealizado por uma equipe de profissionais que atua na Subprefeitura da Sé.

 

O ‘cinza’ urbano que predomina no centro da cidade de São Paulo está sendo, aos poucos, quebrado.

A região que compreende oito distritos, cerca de 600 mil moradores fixos e um fluxo médio diário que alcança 4 milhões de pessoas está mais ‘verde’ e sustentável aos olhos da população e mais funcional quando falamos em meio ambiente.

A iniciativa foi vencedora do Prêmio FNA 2020.

Com o aval do subprefeito Roberto Arantes, o arquiteto e urbanista André Tostes Graziano, o biólogo Rodrigo Soares Silva e o engenheiro Remy Silva, deram início ao trabalho de intervenção em pontos sensíveis da capital paulista – detectados pelo histórico acúmulo de água da chuva que por muitas vezes gera transtornos a pedestres e a motoristas.

Vale lembrar que a região da é reconhecida como a menos arborizada da cidade de São Paulo por conta do seu caráter histórico de ocupação.

A primeira ação, com o apoio da equipe de obras da Subprefeitura da Sé, foi a criação de Bosques de Conservação Urbanos – considerados pela subprefeitura uma nova unidade de conservação municipal.

Foi na região da Avenida do Estado, no Parque Dom Pedro, com a implantação de dois bosques que levam o nome de pássaros: Maritacas e Bem-te-vi. No Maritacas, por exemplo, toda a topografia foi refeita em uma área de 3.600 metros quadrados junto a alça de acesso ao viaduto.

O projeto buscou manter a água da chuva ali mesmo, sem escorrer para outros pontos. Ou seja, o que o bosque recebe de contribuição de chuva que fica no local. No Bem-te-vi, além da mesma proposta, foram plantadas 1.400 mudas de árvores, numa iniciativa que teve o Governo do Estado como parceiro.

“As intervenções consistem na revitalização dos espaços, com o uso de bastante verde, onde predominam também aspectos como humanização, sustentabilidade e atratividade”, destaca Graziano.

Segundo ele, em todas as obras, vão sendo aplicados, paralelamente, conceitos considerados complementares, que são acessibilidade, dinamismo, paisagismo.

“Não é só quebrar o chão e abrir área para conseguir a infiltração da água. A proposta é já que vamos fazer isso, que seja o melhor projeto paisagístico possível, com muita biodiversidade”, afirma o arquiteto e urbanista, cuja equipe começa a ganhar fama de ‘quebra asfalto”.

No Bem-te-vi, foram plantadas 1.400 mudas de árvores, numa iniciativa que teve o Governo do Estado como parceiro.

Cada intervenção do Programa Gentileza Urbana gera outra Gentileza Urbana por parte da população. O que começou de forma tímida ganha cada vez mais visibilidade e apoio da comunidade.

É comum o retorno positivo da população – o que se dá principalmente por meio de associações de bairros e jornais de bairros. O próprio subprefeito, Roberto Arantes, é um dos maiores incentivadores do projeto, tanto que acompanha pessoalmente muitas vezes as equipes nas obras da região central.

O entorno dos bosques implantados na região do Parque Dom Pedro ainda recebeu modelos de jardins de chuva e de biovaletas para coletar água da chuva dentro do foco de se buscar a permeabilidade do local.

As ações de colheitas de água pluvial têm sido implantadas em todos os distritos da região central, no entanto, o primeiro grande sistema de chuvas foi feito na região do Pacaembu, na Rua Major Natanael, que liga a Avenida Doutor Arnaldo ao Estádio do Pacaembu, com forte declividade.

Em quase três mil metros quadrados foram implantados 13 jardins de chuva de diferentes dimensões.

jardim de chuva antes e depois

Em um ano de implantação, o sistema apresentou capacidade de retenção de água equivalente a 5% do piscinão do Pacaembu.

“Nenhum grama de terra saiu do lugar, mesmo com as fortes chuvas recentes na cidade. Isso mostra que a vegetação tem se apropriado dessa água e a devolvido nesta primavera, em forma de flores e vida”, comemora Graziano, salientando que o projeto é desenvolvido em áreas de diferentes tamanhos, de “minúsculas a gigantescas”.

O Programa Gentileza Urbana ainda reserva uma ação totalmente inovadora no Brasil, que são as chamadas Vagas Verdes. A modalidade consiste na remoção do espaço ocupado por um carro estacionado para ser transformado em um jardim que coleta água da chuva – permitindo o plantio de árvores e até mesmo mobiliários como bancos e mesa de jogos.

Além da escolha do local que respeita diversos critérios técnicos para não entrar em conflito com outras instâncias municipais, o projeto ainda recebe pedidos de moradores interessados em transformar vagas em jardins.

“Fizemos um chamamento para saber quem tinha interesse nas Vagas Verdes. De imediato recebemos 36 retornos positivos”, relata Graziano.

Além do projeto em si, que transforma o local num espaço agradável e de convivência, o programa Gentileza Urbana produz algo que muitas vezes supera o projeto em si.

“A comunidade passa a fazer parte disso tudo. Cuida para que não seja depredado. São ações gentis ao ponto de as pessoas começarem a responder a elas e à cidade fazendo parte desses processos”, define o arquiteto.

A proposta agora é fazer com que as ações do Gentileza Urbana se tornem políticas públicas permanentes, independentemente de governos que assumam a cidade.

Enquanto isso não acontece, as ‘gentilezas’ continuam e devem chegar no final do ano com mais de 10 mil metros quadrados de jardins de chuva implantados – um volume que supera o plano da cidade de Nova York para 2021, além de mais 10 mil metros quadrados de bosques de conservação urbanos.

As Vagas Verdes devem somar 22 pontos até o final de 2020, ocupando espaços que variam de 10 a 25 metros quadrados.

Imagens de Carol Prado / Subprefeitura da Sé

 

Fonte: FNA

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