Guia para construções resilientes ao clima do PNUMA
Um Guia Prático para Construções Resilientes ao Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) é uma publicação em resposta ao relatório do sobre Mudança do Clima do IPCC, liberado recentemente, que fez o mundo voltar os olhos para as ameaças eminentes e a necessidade de ações.
O artigo contém algumas soluções baseadas na natureza e voltadas para a infraestrutura que podem se mostrar essenciais para lidar com os efeitos advindos das mudanças climáticas.
Desenvolvida pelos maiores especialistas em mudanças climáticas, a compilação de estudos publicada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) indica que a temperatura média do planeta tende aumentar 1,5 ºC nas próximas duas décadas, trazendo devastação generalizada.
Muitas das mudanças descritas são sem precedentes. Algumas estão em andamento agora, enquanto outras — como o aumento contínuo do nível do mar — permanecerão “irreversíveis” por séculos a milênios.
Atento à necessidade de agir diante das evidências apresentadas, o PNUMA suscitou o relatório Um Guia Prático para Construções Resilientes ao Clima, que mostra, por exemplo, como edifícios e espaços comunitários podem ser construídos para aumentar a resiliência, especialmente em países em desenvolvimento, onde os assentamentos são em grande parte autoconstruídos.
O relatório também demonstra como a combinação de soluções de construção ‘cinza’ com soluções ‘verdes’ baseadas na natureza pode ter resultados promissores.
A última década foi a mais quente da história da humanidade. Incêndios e inundações apocalípticos, ciclones e furacões são cada vez mais o novo normal, e as emissões são 62% mais altas agora do que quando as negociações internacionais sobre o clima começaram em 1990. A evidência é clara.
Estamos em uma corrida contra o tempo para nos adaptarmos a um clima em rápida mudança – uma das três crises planetárias que enfrentamos junto com a perda de biodiversidade, poluição e resíduos.
Impactos Ambientais da Construção Civil:
Responsável por 38% do total das emissões globais de CO2 relacionadas com a energia, a indústria da construção terá um papel importante no cumprimento de nossa meta de limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2 °C.
De acordo com algumas estimativas, investir em infraestrutura mais resiliente também pode economizar para a humanidade impressionantes US$ 4,2 trilhões com os danos causados pelas mudanças climáticas, de acordo com o Banco Mundial.
Confira abaixo cinco maneiras de tornar as construções resilientes ao clima com alguns exemplos da região:
1. Construindo resiliência a ondas de calor
Estudos mostram que, em 2050, 1,6 bilhão de pessoas que vivem em mais de 970 cidades estarão regularmente expostas a temperaturas altas extremas. Juntamente com o “efeito de ilha de calor urbana“, que torna as cidades mais quentes do que a área rural circundante, isso coloca os moradores urbanos em alto risco.
Mas a natureza oferece soluções poderosas. As comunidades podem criar florestas urbanas e espaços verdes para reduzir as ondas de calor nas cidades, pois as árvores e outras plantas resfriam o ambiente ao redor, oferecendo sombra e liberando água por meio de suas folhas.
Projetos estruturais também podem ajudar a reduzir o calor dentro de edifícios. No Vietnã, os projetos de habitação tradicionais, como a orientação ideal das construções, salas altas e grandes aberturas, melhoram a ventilação. Paredes de trombe – estruturas pesadas de concreto, pedra ou outro material pesado que capturam o calor solar são usadas na China, Chile e Egito.
Telhados verdes e superfícies reflexivas também podem reduzir as temperaturas dentro e ao redor das construções.
2. Construindo resiliência à seca
A mudança climática está afetando os padrões de precipitação em todo o mundo. Os sistemas de coleta e recarga de água da chuva que capturam água nos telhados dos edifícios são comumente usados para armazenar água durante a seca e reduzir o risco de inundações durante chuvas fortes. A água captada pode ser armazenada em tanques e utilizada no interior da construção durante os períodos de estiagem.
Outra maneira econômica e baseada na natureza de lidar com secas e inundações é plantar árvores ou outra vegetação ao redor dos edifícios. As raízes das plantas agem como esponjas para recarregar as águas subterrâneas e, durante chuvas fortes, as raízes permitem que a água penetre no solo e reduzem o risco de inundações.
Na China, o Projeto Sponge Cities está testando soluções de eco-engenharia para absorver e reutilizar a água da chuva em mais de 30 metrópoles para reduzir os riscos de inundações.
3. Construindo resiliência à inundações costeiras e ao aumento do nível do mar
Em 2025, 410 milhões de pessoas nas comunidades costeiras podem correr o risco de inundações costeiras e aumento do nível do mar.
Em Kerala, Índia, casas resistentes a enchentes são construídas sobre pilares para permitir que a água das enchentes flua por baixo. Nas costas da Malásia, edifícios elevados 2 metros acima do solo permitem que o fluxo de água e a vegetação do pântano cresçam embaixo, com casas e áreas públicas conectadas por passagens elevadas.
Uma abordagem proposta em Bangladesh é construir um edifício multifuncional flutuante que se apoiaria em pilares com tanques flutuantes que o elevam durante as enchentes. O prédio funcionaria como um centro comunitário e também forneceria abrigo de emergência durante as enchentes.
4. Construindo resiliência a ciclones e ventos fortes
Prevê-se que ciclones e tempestades se tornem mais frequentes e fortes com as mudanças climáticas. Eles podem afetar as construções de várias maneiras, como derrubar telhados e danificar as estruturas e fundações. Para mitigar esses danos, as comunidades podem construir casas redondas e considerar a orientação aerodinâmica ideal para reduzir a força dos ventos.
O design do telhado também desempenha um papel importante. Conexões fortes entre as fundações e o telhado são essenciais para a construção de casas resistentes ao vento. Telhados com várias inclinações podem resistir bem a ventos fortes, e a instalação de poços centrais reduz a força do vento e a pressão no telhado, sugando o ar de fora.
Os telhados que cobrem varandas ou pátios também podem ser projetados para quebrar durante ventos fortes para evitar danos estruturais adicionais às partes essenciais da casa. Isso é chamado de arquitetura frangível ou abordagem de “planejamento para danos”.
5. Construindo resiliência ao frio
A adaptação a climas frios e temperados requer a captura de calor e a minimização da perda de calor. Isolamentos em telhados, paredes, tetos e janelas com vidros duplos ajudam a minimizar a perda de calor e levam a construções com maior eficiência energética.
Em regiões mais frias, as paredes de Trombe podem absorver calor durante o dia e irradiá-lo à noite quando está mais frio. A água tem alta capacidade de armazenar calor e pode ser usada em “paredes de água” – que, em vez de concreto, contêm tambores de água para armazenar calor.
Os edifícios também devem ser orientados para maximizar a exposição ao sol, e as superfícies externas das paredes devem ser pintadas de escuro.
Os telhados verdes que suportam o crescimento das plantas em telhados são usados em muitas cidades ao redor do mundo e têm demonstrado fornecer isolamento e reduzir a demanda de energia para refrigeração durante o verão e aquecimento durante o inverno.
Para baixar o Guia Prático para Edifícios e Comunidades Resilientes ao Clima clique aqui
Veja o vídeo com um resumo do guia produzido pelo UNEP:
Fonte: ONU
Foto da capa: Casa de bambu com telhado de palha na floresta natural, a casa local na região de Vanuatu
© iStock.com
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